quarta-feira, 28 de julho de 2010

Outra despedida

O pai dele se foi três meses depois de sua partida. Na minha mente fica a imagem de seu sorriso matreiro a passos largos ao encontro do filho. Não importa a doença que o tomou:  foi a tristeza que o apressou.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Conversas infantis

- Dinda, o tio morreu.

...Ele me disse assim, dia desses, com a sabedoria de seus cinco anos, sem rodeios nem histórias de pessoas que viram estrelinhas ou que foram morar no céu.

- Verdade.

...Respondo, meio encabulada, sem entender de onde vem esta coragem em falar com simplicidade algo tão complicado.

- Naquela foto o seu sorriso era feliz. Agora é triste.

...Continua ele com uma voz professoral de quem tem que me explicar algo que ainda não entendi.

- Vou melhorar. Já estou quase lá.

...Respondo mais uma vez com uma ponta de medo de não ser bem assim.

- Tá bom, acredito.

E me olha desconfiado e muda de assunto.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um presente escrito

Passou à muito pouco o seu aniversário de dois anos, meu filho. Bem pertinho mesmo. Fiquei às voltas em pensar no presente perfeito e na festinha colorida para ver seus olhinhos brilharem de alegria.

Junto à estas tarefas que desempenhei com carinho, evitei pensar no seu primeiro aninho sem o papai a lhe segurar para apagar a velinha. E foi tamanha a sua felicidade que, realmente, me vi feliz de verdade.

Mas ainda queria lhe dar um presente, meu filho, algumas histórias de seu pai, para que você o conheça mais e assim conheça a você mesmo. Por que somos muito disto, meu filho, somos parte de nossos pais e de suas histórias.

- Seu pai tinha uma memória prodigiosa para números. Sabia CPF´s, RG´s, datas, senhas, e se necessário, guardava até um código de barras inteiro... mas nunca se lembrava onde tinha colocado as chaves do carro ou os óculos de sol.

- Ele me puxava para seu colo com estardalhaço, falando que eu era dele, só para ver você vir correndo e pedir colo também. E a gente ficava ali, empilhados em um abraço demorado.

- Ele foi o primeiro a te segurar, a te trocar, o primeiro a te dar banho, a te embalar. Seguiu você pelo hospital com medo de alguém te perder.

- Ele levantava bem cedinho, caindo de sono, para te pegar ainda dormindo no berço e o trazia para nossa cama, sem se preocupar com as regras modernas da puericultura. Era só gosto bom de família.

- Ele perdeu a mãe cedo, conhecia esta dor. Mas voltou a gostar do dia das mães depois que você nasceu.

- Acho que ele era bem levado quando criança, filho, mas isso não sei ao certo. Cortou o pé de “ora pro nobis” da Vovó Sãozinha por que tinha espinho. Arrancou uma lasquinha da mesa nova porque precisava de um palito.

- Era cruzeirense, e como sou atleticana, brincava que casou primeiro e só perguntou depois.

- Ele queria menino. Queria você. Escolheu seu nome.

- Ele te beijou, filho, bem demorado, antes de sairmos naquele dia.