quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Encontro

Conheci-o pessoalmente um dia depois de seu aniversário.

Eu, decepcionada com as paixões. Ele, farrista assumido.

Começamos como estes casais modernos, via internet. Mantivemos um pé no tradicionalismo mineiro com uma amiga nos apresentando formalmente, por email, com fotos e votos de se comportem.

Ele não gostou do que viu. Eu salvei a foto dele para verificações futuras.

Eu, em Bauru, ele em Brasília, a cupida em outro lugar do mapa.

Já no encontro cara a cara, sem tempo para pensar na melhor escrita, eu olhei desconfiada para aquele rapaz com os olhos espantados. Ele confessou tempos depois, que o susto vinha da descoberta que, afinal, eu era diferente do que tinha imaginado.

Pequenas mentiras de sedução, um amor honesto dentro do peito e três meses depois falávamos em casamento.

Eu, assustada. Ele, decidido.

Mas precisaram se passar mais alguns meses e minha profissão cigana me mandar para o frio do sul até a escolha de nossa primeira casa.

Nos sentíamos unidos, inteiros e amigos. Era bom e feliz.

Sincero e tão completo em suas perfeições e imperfeições que me transformou e me resgatou.

Depois dele e mesmo agora que se foi, voltei a acreditar nas relações. Nos amores possíveis. Na vida a dois. Mesmo quando minha alma escurece e chove aqui dentro de mim.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

...Muitas vezes, as palavras faltam e lançamos mão das que não são nossas, as de verdadeiros poetas que, com um olhar de almas antigas têm o dom de nos traduzir quando nós mesmos não conseguimos.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A fé me sustenta. Uma fé maior do que eu jamais imaginei. Ela me apóia e me faz acreditar no amanhã.

Fé em Deus, na vida, em mim. Força.

Sempre fui uma pessoa de fé. Ela não passou a existir para aplacar o meu sofrimento, mas apropriou-se de mim, cotidianamente, sustentando-me e mostrando-me motivos para continuar.

(Acho que sem uma crença em algo maior, em um propósito, a vida vira beco sem saída...)

Sou nascida católica, mas sempre questionei as religiões, já que acredito serem elas dos homens, que são falhos e muitas vezes usam-na para interesses outros.

Mas independente destas, acredito na existência de Deus, na Sua presença em minha vida. Sinto-me abençoada mesmo agora, quando encaro os meus temores palpáveis.

Esta fé em Deus permite-me não entender.

Simplesmente não aceito. E está tudo bem.

Não sei como aceitar a partida de alguém que julguei não existir, que amei por escolha e que me retribuiu na mesma medida.

Aceitar é compreender que tinha de ser assim, e eu não estou pronta para isso.

Não entendo o porquê de ter sido naquela manhã, sem avisos nem rodeios, de ter sido conosco, de não ter tido a chance de me despedir.

E, estranhamente, sinto que é justamente na falta desta aceitação ou compreensão que reforço a minha fé.

Acredito que Deus está por perto, que vai cuidar de mim para que eu possa viver e ser feliz, mesmo não entendendo ou aceitando o que, no fim, não saberei as respostas.