sexta-feira, 23 de abril de 2010

Estado de Viuvez

Ser viúva não só um estado civil mas também um estado de espírito: você não tem mais o compromisso assumido com uma pessoa entretanto não deseja largar de tê-lo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Carta para você!

Amor,

Tento escrever uma carta para você, como se você ainda estivesse aqui só para fazer algo que não fiz quando havia oportunidade.

Não consegui. A realidade é outra. A chance se foi.

Eu não posso mais te dizer coisas que pensava, eu não posso ouvir suas respostas.

Queria ter te falado mais sobre o amor que sentia, já que nunca é demais falar sobre isso, mas também sobre outros sentimentos, angústias e fraquezas, que achei sendo meus, não deveriam ficar expostos.

Nunca tive coragem de lhe contar do medo que sentia de te perder, escondi-o até de mim.

E é duro ver nossos medos tornarem-se reais.

Acreditei que tudo viria com o tempo e a seu tempo. O que eu não sabia era que este é que era limitado.

Conhecendo-me, assusto ao ver que não parti com você.

Mas que não continuo a mesma.

Olho para esta pessoa estranha que busca forças e as encontra não se sabe onde, que ri e se fecha e não a reconheço. Nem sei se você ia gostar dela. Espero que ela melhore.

Para me resgatar, fixo a mente nas muitas lembranças.

Elas me acompanham, boas, doces, amargas e felizes, desta época em que pude compartilhar com você uma vida inteira dentro de um curto espaço de tempo.

Não são muitas as pessoas que juntam as palavras casamento e felicidade em uma só frase. Alguns nem as têm.

Eu as tive e isso é muito.

E.

PS.: Ao nosso quinto ano, com o mesmo amor do primeiro!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

5 meses

A música do carro não toca alta o suficiente naquela curva a caminho de casa.

Queria que o som evitasse o mesmo pensamento de presságio e agonia que me assalta todos os dias, nestes cinco meses que nos separam.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Burocracia

Existe sim uma burocracia enorme pós-morte que, se sozinha já me traz grande descontentamento, piora ao verificar que junto a esta, assisto, resoluta, a vida dele ser reduzida a números, laudos, dados, datas e protocolos.

Esta burocracia começou exatamente no mesmo instante em que se instalou o sofrimento, veio insensível, trazendo seus prazos a serem cumpridos, papéis a serem entregues, cartórios e carimbos que ignoram os meus sentimentos e minha necessidade de ar.

Neguei ao máximo estas tarefas, talvez na esperança que, de alguma forma, ele voltasse para seu CPF e para mim.

Entretanto, mesmo com a ajuda de tantos queridos amigos e parentes que tentaram realizá-las, sempre é preciso da minha assinatura, do meu consentimento ou minha orientação.

No final, não consegui fugir.

E tenho que repetir meu indesejado recém adquirido estado civil e minha história para um nem sempre amigável atendente, que não percebe o esforço e a batalha interna para estar ali...

Semana passada, mais uma vez, dei entrada em outro processo.

Vi novamente a vida dele ali, exposta a uma desconhecida por detrás de uma mesa.

Desta vez, chorei envergonhada de ainda chorar nestas horas, me lembrando de que ele era mais que aqueles papéis, que tinha uma história que faz parte da minha e que luto para assegurá-la na de nosso pequeno.

Neste dia descobri que preciso, ainda, “averbar” minha certidão de casamento, voltar – pela terceira ou quarta vez – no cartório onde nos casamos para que alguém escreva que ele se foi, que sou viúva, que esta é minha nova história, oficial, carimbada, rotulada em quantas vias mais a burocracia solicitar.