segunda-feira, 29 de março de 2010

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre ele

Calça jeans. Blusa social clara, mangas compridas dobradas perfeitamente até à altura dos cotovelos. Sapato social.

Andar macio, de quem pisa com o pé todo, consciente de cada passada. Sem pressa.

Coluna ereta. Ombros largos. Peito aberto de quem fica com o coração exposto.

Cavanhaque. Olhos castanhos claros, que ele jurava que podiam ficar esverdeados e eu ria desta possibilidade. Óculos escuros.

Cabelos curtos com entradas e uma pequena mecha de fios brancos que vi surgir, que ele dizia ter meu nome, que eu não pude ver se espalhar por sua cabeça.

Cheirava a perfume bom. Ou a nada.

Falava baixo ao telefone, gritava em dia de jogo.

Risada forte, de sacudir o seu corpanzil, largo e alto.

Era emotivo. Chorava comigo e por mim. Sabia pedir desculpas e tentou me ensinar o mesmo.
Amável. Brincalhão. Divertia-se com tudo, se esbaldava no sorriso do filho. Dizia que se perdia no meu.
Pai, com toda a força da palavra. Brincava se arrastando pelo chão, de cavalinho, ou qualquer coisa que o pequeno quisesse.

Inteligente, matemático. Sincero.

Amigo. De seus amigos, dos meus, dos que ele ainda não tinha feito. Não tinha conhecidos. Tinha amigos. Era meu amigo também.

Mas de seu melhor amigo ele era irmão.

Cozinhava bem. E convidava. Gostava de casa cheia, sem se importar se no outro dia tinha que trabalhar.

Me amava. Me escolhia todo dia para sempre, mesmo depois de uma grande briga.

Era feliz e ponto.

Tinha defeitos, muitos. Mas hoje só quero lembrar as coisas que tenho medo de esquecer.

terça-feira, 16 de março de 2010

A culpa

Eu busco respostas... Para tudo, sempre busquei. Estoicamente. Não sou uma pessoa que se contenta com um "porque sim" ou "são coisas da vida". Não eu.

O problema é quando, na verdade, não existe uma resposta que caiba no tamanho das perguntas que me faço, nos porquês que levanto.

Mas mesmo assim, eu busco.

Conversei com médicos, fui à igreja, troquei de crença, questionei os desígnios, tentei terapia, e por fim e desde o começo, me culpei - muito, irracional e profundamente.

Achei a resposta em mim, por não ter vistos os sinais, logo eu que tenho um histórico familiar de muitos cardíacos, que leio e me informo... Por não ter insitido nos check ups anuais, por não ter corrido para o hospital quando ele falou do calor que sentia naquela manhã.

Culpei-me e não consigo não pensar nisso.

Mas racionalizo, me fundamento, não tenho poderes sobre a vida e a morte. Não tenho o amanhã, muito menos o hoje.

E assim tenho caminhado, tentando me desculpar racionalmente.

Por isso comecei a escrever, buscando as respostas que estão em mim, neste ato de perscrutar minh'alma, para me perdoar, para minar a dor e a saudade, para transformar este amor que, se antes completo, agora, inalcançável.

segunda-feira, 15 de março de 2010