sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Choro

No começo era o choro desmedido, pranto profundo, que sai de todos os cantos: coração, mente, corpo, alma.

De forma incontrolável, ele toma conta da gente, faz tudo girar, vira grito de dor, perdemos as forças... este choro suga a vida até o sono chegar, deixando o corpo entorpecido, a boca seca, a cabeça vazia.

Foi assim em algumas ocasiões...

 - No dia que ele se foi, na hora da constatação de que um vazio sem resposta tomaria conta de mim por muito tempo, de um pedido que não seria atendido, da solidão e da ausência já sentidos.

- Na semana seguinte, na casa de minha infância, onde não pude voltar para o útero de minha mãe e o abraço de meu pai não me protegia mais.

- Na primeira noite de volta a minha vida, naquele quarto onde dividíamos tudo, onde éramos só nós dois, onde fomos um, onde nos transformamos em três.

Mas logo em seguida conheci o pranto "de hora marcada", que chega no carro de volta do trabalho, na hora do banho, no escuro da noite quando acordo de madrugada. Este é mais sereno, com um controle de quem sabe que depois da curva tem que estar melhor, já sorrindo, sem querer que percebam para que não tentem te consolar...

Nesta época você aprende que não há consolo, o que existe é calma com a realidade.

Com os dias correndo, vem o choro da saudade. Não daquela que você imagina no começo, mas real, de tempo que passou... Saudade de abraço, de beijo, de boa noite e de bom apetite.

Agora sobrevivo ao pranto de assalto. Aquele que me pega distraída, de forma sorrateira, quando olho para o lado e vejo o bar de nosso primeiro encontro, quando floresce a orquídea ganha no meu aniversário, em meio ao trânsito, ao filme assistido juntos.

Este é mais cruel. Te desaba a qualquer momento. Ele vem para te lembrar que não, não passou e sim, é verdade.

Hoje choro todos estes prantos e me pergunto quantos mais ainda vou conhecer...

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